Opinião

Governança e eficiência na era digital

Hélio Santana

Especialista em Sistemas de Gestão

5 Abril, 2025 - 11:53

5 Abril, 2025 - 11:53

Hélio Santana

Especialista em Sistemas de Gestão

Vivemos um tempo em que a transformação digital deixou de ser uma escolha para se tornar uma exigência para a sobrevivência e competitividade das organizações. Em Angola, esta realidade impõe desafios profundos à forma como empresas e instituições públicas conduzem os seus processos, tomam decisões e garantem a sua sustentabilidade. Neste contexto, a auditoria interna emerge como um dos principais instrumentos de controlo, transparência e modernização.

Durante o meu envolvimento em processos de transformação digital no país, percebi que, em muitos casos, a ausência de uma auditoria interna estruturada tem comprometido não apenas a segurança da informação como também o desempenho sustentável das organizações. O papel da auditoria já não se limita à conformidade normativa; hoje, deve actuar de forma estratégica, contribuindo para a construção de um ecossistema empresarial resiliente e inovador.

Angola enfrenta um contexto desafiante: a exigência de conformidade com leis como a de Protecção de Dados Pessoais, a pressão para adopção de tecnologias emergentes e a necessidade de maior eficiência no sector público. No sector financeiro, por exemplo, a digitalização de serviços bancários e o crescimento dos pagamentos electrónicos trouxeram benefícios inegáveis, mas também aumentaram exponencialmente os riscos cibernéticos. Sem mecanismos internos de controlo robustos, esses avanços podem facilmente transformar-se em vulnerabilidades críticas.

Na Administração Pública, a modernização de sistemas de gestão documental e plataformas de e-governance tem criado novas possibilidades de eficiência. Contudo, também evidenciou fragilidades relacionadas à integridade e à transparência dos processos. É precisamente neste ponto que a auditoria interna, quando alinhada às boas práticas internacionais e aos objectivos estratégicos das instituições, se torna um activo valioso – não apenas para mitigar riscos mas também para identificar oportunidades de melhoria e inovação.

É fundamental que a auditoria interna acompanhe a evolução tecnológica. Hoje, mais do que nunca, as organizações precisam de mecanismos que assegurem a eficácia dos investimentos tecnológicos e previnam desperdícios. A crescente digitalização dos serviços públicos, por exemplo, exige mecanismos de controlo que garantam ganhos reais para os cidadãos.

Algumas áreas críticas que não podem ser ignoradas incluem:

  • Cibersegurança: A conformidade com normas como a ISO 27001 é vital, e a auditoria deve avaliar a existência de planos de resposta a incidentes.
  • Automatização de Processos: Ferramentas como RPA (Automação Robótica de Processos) e Inteligência Artificial devem ser acompanhadas por auditorias que garantam eficiência e legalidade.
  • Protecção de Dados: Com a Lei de Protecção de Dados em vigor, é essencial que as práticas organizacionais respeitem padrões internacionais.
  • Gestão de Riscos Financeiros: No sector bancário e segurador, a qualidade dos sistemas de transacção e gestão de crédito deve ser auditada de forma rigorosa.
  • Administração Pública: A fiscalização de processos, como os da AGT, deve garantir maior eficiência fiscal e transparência.
  • Gestão Orçamental: Auditorias regulares são fundamentais para evitar desvios e assegurar o uso adequado dos recursos públicos.
  • Prestação de Serviços ao Cidadão: O funcionamento das plataformas digitais deve ser acompanhado para garantir segurança e eficácia.
  • Combate à Corrupção: A auditoria deve reforçar os mecanismos de controlo interno e a conduta ética dos processos administrativos.
  • Eficiência Operacional: A identificação de redundâncias e ineficiências permite propor melhorias que reduzam custos e aumentem a qualidade.
  • Consultoria Estratégica: Muitas vezes, a capacidade técnica interna não é suficiente e o envolvimento de empresas de consultoria torna-se um recurso vital para acelerar a digitalização, aumentar a transparência e capacitar as equipas.

Adicionalmente, o avanço dos princípios de ESG (Ambiental, Social e de Governação) traz uma nova dimensão ao papel da auditoria interna. Esta deve assegurar que:

  • As tecnologias verdes sejam adoptadas para reduzir impactos ambientais;
  • As políticas de protecção de dados respeitem os direitos fundamentais dos cidadãos;
  • A governação empresarial seja íntegra e livre de corrupção.

A modernização das organizações angolanas só será viável se a auditoria interna for reconhecida como um instrumento dinâmico, ajustado à complexidade actual dos negócios e da gestão pública. Não se trata apenas de cumprir requisitos – trata-se de garantir que a inovação caminhe lado a lado com a responsabilidade e a eficiência.

Em suma, numa economia cada vez mais digital, apenas prosperarão as organizações que conseguirem equilibrar a modernização tecnológica com a segurança, a conformidade e a ética. A auditoria interna deve ser o pilar que sustenta esse equilíbrio.

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