Opinião

Os desafios da complexidade económica

Kâmia Madeira

Licenciada em História pela Universidade de Coimbra

10 Abril, 2025 - 15:20

10 Abril, 2025 - 15:20

Kâmia Madeira

Licenciada em História pela Universidade de Coimbra

Vi, recentemente, uma publicidade sobre os membros que constituem o actual executivo angolano e não pude deixar de fazer comparações com a nova estrutura de governação do nosso vizinho, o Estado Namibiano, pois aquele está mais enxuto, tem objectivos, metas claras e específicas que deve cumprir com Indicadores-Chave de desempenho e uma posterior avaliação de cada servidor público.

Alguns de nós argumentam insistentemente que a gestão da coisa pública difere do património privado. Mas, o que é gerir? Gestão é o acto de administrar, controlar, planificar e executar actividades, pessoas, processos e recursos para atingir objectivos. Se olharmos para o seu fim, verificaremos que visa usar os recursos da melhor maneira possível para aumentar o lucro; reduzir custos; optimizar processos; inovar; crescer; manter a competitividade; adaptar-se às mudanças; minimizar riscos e maximizar oportunidades.

Ora, enquanto servidores públicos, independentemente da instituição, não deverão ser estas as suas linhas orientadoras? Numa altura em que o mundo atravessa alterações significativas, onde as potências de outrora querem tornar-se “grandes outra vez” face ao posicionamento de jogadores estrategas, onde os nacionalismos, assim como a descrença pela política e políticos encontra solo fértil, é importante uma análise acurada e apurada para irmos ao encontro das expectativas dos cidadãos.

Em 2020, quando tivemos a oportunidade de frequentar o curso Leading Economic Growth, Liderar o Crescimento Económico, numa tradução à letra, da Harvard Kennedy School, consultamos o Atlas da Complexidade Económica, uma plataforma interactiva desenvolvida pela Harvard Growth Lab que permite explorar e analisar aestrutura económica dos países com base na diversidade e complexidade das suas exportações.

Um dos conceitos-chave dessa plataforma é que economias mais complexas exportam produtos mais raros e sofisticados, o que tende a gerar maior crescimento sustentado a longo prazo. Angola ocupa o 92º lugar no Índice de Complexidade Económica, o que sugere desafios para um crescimento sustentável a longo prazo.

Para estes estudiosos, a melhoria da complexidade económica e do crescimento a longo prazo passará por:

Diversificação da Base Produtiva: Investir em sectores além dos recursos naturais, como na agricultura, manufactura e nos serviços.

Desenvolvimento do Capital Humano: Fortalecer a educação e formação profissional para capacitar a força de trabalho em áreas técnicas e inovadoras.

Melhoria do Ambiente de Negócios: Implementar políticas que facilitem o investimento privado e promovam a competitividade. Inovação e Tecnologia: Apoiar a investigação e desenvolvimento para fomentar a criação de produtos e serviços de maior valor acrescentado.

É um facto que estão a ser envidados esforços para ir ao encontro dessas directrizes. Contudo, ainda acredito ser necessário maior investimento na manufactura e serviços, no desenvolvimento do capital humano (através daformação profissional) e no apoio à investigação para criação de soluções tecnológicas inovadoras. Face às rápidas mudanças globais, não será já altura de dar sinais de parcimónia? Considerar uma redução da “máquina estatal” visando mais celeridade e eficiência? Apostar em parcerias público-privadas que retirem o grande peso de intervenção do Estado, fomentem o emprego de uma geração apelidada de Z (que é a base da nossa pirâmide demográfica), e que valoriza o equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional e que busca propósito e pertença no trabalho, procurando a flexibilidade, a inovação, assim como a qualidade de vida?

Ainda são muitos os desafios, mas certamente da parcimónia e da estratégia, nascerá a força económica.

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