Opinião

Quando os elefantes lutam, é o capim que sofre

Bernardo Vaz

Economista

18 Abril, 2025 - 16:57

18 Abril, 2025 - 16:57

Bernardo Vaz

Economista

O primeiro trimestre de 2025 ficará marcado pelo reatar das tensões comerciais entre as duas maiores potências económicas mundiais, com os Estados Unidos a imporem novas tarifas sobre produtos chineses, com destaque para o aço, baterias de veículos eléctricos, painéis solares e outros bens estratégicos. É paradoxal assistir a um país historicamente defensor do livre mercado recorrer a medidas proteccionistas para salvaguardar a sua indústria doméstica. Em resposta, a China optou por retaliar, acentuando o conflito.

Esta disputa vai muito além de uma simples guerra comercial. O que está em jogo é uma rivalidade tecnológica, o controlo de mercados e matérias-primas estratégicas, o domínio geopolítico e a hegemonia global. Desde a Guerra Fria que os Estados Unidos não enfrentavam um adversário tão forte no cenário internacional como a China. O novo oponente está tão bem preparado que os americanos se vêem obrigados a subverter as próprias regras do jogo que ajudaram a criar — para a surpresa dos seus mais próximos aliados, como a União Europeia e o Canadá, apanhados desprevenidos no processo.

Como se costuma dizer entre nós, “quando os elefantes lutam, é o capim que sofre”. O agravamento das tarifas representa custos adicionais para os importadores, provoca uma retracção do comércio internacional e interrompe cadeias de valores globais. Este ambiente de incerteza tende a provocar um aumento das taxas de juro e uma redução do investimento produtivo. Em tempos de instabilidade, os agentes económicos procuram activos mais seguros, abandonando os mercados financeiros e adiando decisões de investimento.

As tarifas também encarecem os produtos importados. Representam um custo acrescido para os países exportadores, que, por sua vez, tendem a repassar esses custos aos importadores sob a forma de preços mais elevados, alimentando pressões inflacionárias — sobretudo nas economias que dependem da China para o fornecimento de insumos industriais.

Entretanto, ao travar o comércio global, este conflito tarifário tem tido um efeito colateral relevante: a redução do preço do petróleo no mercado internacional. Para Angola, cujo petróleo representou cerca de 29% do PIB e 65% das receitas do Estado em 2024, essa baixa nos preços representa uma ameaça directa à sustentabilidade das contas públicas e à estabilidade macroeconómica.

A escalada das tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China representa um dos maiores riscos económicos globais da actualidade, afectando não apenas os dois protagonistas, mas toda a economia mundial. Para países como Angola, altamente dependentes das exportações de petróleo, o impacto é particularmente preocupante. Em tempos como este, torna-se imperativo acelerar a diversificação da economia e desenvolver estratégias que reduzam a vulnerabilidade externa, de modo a proteger os ganhos obtidos e garantir o crescimento sustentável a médio e longo prazos.

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