Trump versão 2.0 está, sem dúvidas, a agitar as águas americanas e do mundo. Será algo novo ou, simplesmente, a maturação do que se terá iniciado no mandato anterior?
Reza a história que a visão “imperialista” dos EUA não começou com Donald Trump, pois a sua política externa é guiada por interesses estratégicos, económicos e de segurança, independentemente de quem está na Casa Branca. O que muda é o modo de actuação e de retórica. Como exemplos, temos a intervenção, no Afeganistão, em 2001, a guerra no Iraque, em 2003, assim como a era Obama, a mais diplomática, mas a que se imiscuiu na Líbia e realizou operações secretas, com recurso a drones, que resultaram em inúmeras mortes.
Considero que, para entender Trump, devemos analisar várias condicionantes de um modo mais global, tendo em conta que o mesmo representa a descrença das pessoas face aos sistemas políticos e os políticos. Casos de corrupção, condições de vida austeras e um olhar mais individualista fazem emergir actores de outros quadrantes da sociedade que se arrogam em ser anti-sistema e capazes de resolver o que os outros não conseguiram, porém, utilizando estratégias que descredibilizam aspectos que considerávamos fundamentais e instituídos, como as relações diplomáticas ou o conceito de reciprocidade.
Nesta senda, ressurgem os nacionalismos revestidos de uma auto-protecção e de uma percepção de que, de algum modo, existe uma ameaça, maioritariamente externa, e é necessário combatê-la. Os cidadãos com essas preocupações representam classes de trabalhadores que veêm o seu custo de vida a aumentar a cada dia que passa e não encontram respostas sociais, quer seja a nível de emprego ou da saúde. São igualmente pessoas com baixa instrução e consomem grande parte da informação pelas redes sociais, não tendo a sagacidade de filtrar conteúdos.
A política de Donald Trump assenta na ideologia de “América primeiro” em que se rejeita a globalização e se defende o proteccionismo económico, valorizando a produção interna, a reindustrialização do país, a defesa do emprego para nacionais e um comércio internacional baseado na competição e não na cooperação. A economia é vista como um instrumento político (daí a guerra das tarifas, a China é um “inimigo figadal) e promove-se a ruptura com o consenso neoliberal onde se defendem acordos bilaterais e não multilaterais.
A imprevisibilidade desta administração faz com que se temam os passos seguintes e se comece a olhar para os Estados Unidos como um parceiro pouco confiável, já que demostra avançar ao sabor de humores e disposições do seu presidente.
Considero que nos novos tempos uma das preocupações para quem “faz política” é ser consistente, ético e fiável, mas também deve exercer o seu papel assumindo a responsabilidade de ir ao encontro das preocupações dos cidadãos, ponderando o que diz, como o diz e onde o diz, porquanto a informação corre à velocidade da luz e, na maioria das vezes, os excertos viram “soundbytes” que dão pauta à agenda mediática e descredibilizam a imagem dos mesmos.
Em sociedades voláteis, em que se consome informação vorazmente e sem verdadeira análise ou interpretação dos factos, um dos grandes desafios é como fazer passar a mensagem de modo assertivo e didáctico, reiterando confiança.
Um dos grandes trunfos da versão Trump 2.0 é a sua forma de comunicar bastante eficaz, porque usa linguagem que todos entendem e utiliza mensagens subliminares que reforçam o que os seus eleitores querem ouvir. Desengane-se quem pensa que são posicionamentos erráticos e aleatórios apenas para entreter. Acredito que é uma estratégia planificada e que se ajusta às reacções internas e externas.
Talvez seja altura de acompanharmos o Tsunami Trump com interesse, pois este poderá ser o novo modo de fazer política de agora em diante.