NFL, ou Na Fila do Pão, é um bootcamp dinamizado pela Carmen Mateia, benguelense de gema que se intitula Intelectual Pública. Sigo-a no LinkedIn e vou acompanhando a sua trajectória. Este evento, em particular, despertou a minha curiosidade, pois foi organizado com uma abordagem de economia criativa, onde cada participante pagava pelo acesso, o mínimo, 500 Kz. Segundo a organizadora, o valor mais alto foi de 2.000kz e conseguiu angariar 34.700,00Kz. Para a produção de um roll up, ela investiu 19.000Kz no total. Todos os outros custos foram cobertos por apoios de empresas e de pessoas singulares que se voluntariaram.

O evento era, nada mais nada menos, um programa de consultoria em gestão de carreira e, pelo que nos contou a Carmen na sua publicação, não pretendia ter um grande número de participantes. Em jeito de justificação, afirmou: “para mim, plano de carreira é coisa de discutir em privado e restritamente”.

Trago-vos este exemplo porquanto considero que, muitas vezes, por não termos objectivos, perdemos o foco e somos levados a validar e dar como verdades as experiências pessoais onde “se doura a pílula” e não se partilham todas as agruras de um processo de desenvolvimento.

Para William Davies, britânico e investigador de economia política na Universidade de Londres, “fazer um curso era meio caminho andado para uma carreira melhor, esse contrato foi quebrado: há uma sensação de injustiça intergeracional”.

Sendo nós um país jovem, e o censo de 2024 poderá confirmá-lo, que carreiras os nossos jovens almejam?

O que oiço são inúmeras críticas à falta de oportunidades, à dificuldade para conseguir um emprego. Mas, será que aquilo que se ensina vai de encontro à prática?

Os jovens licenciados têm as suas competências aprimoradas? Pois, nos currículos, todos dizem que são proficientes em ferramentas de Office, mas, depois, não sabem trabalhar no Excel…

São fluentes em mais do que uma língua? E dominam não só a oralidade como também a escrita?

É que o caminho entre a teoria e a prática pode ser sinuoso, inúmeras são as empresas que têm de investir em formação para os seus colaboradores dada a ausência de conhecimentos de base…

Crescer profissionalmente e gerir uma carreira tem muito mais a ver com o aprimorar e aprender novas competências do que ascender porque se está há muito tempo numa empresa ou porque se tem um “canudo”.

Gerir uma carreira é, também, desafiar-nos e, de algum modo, contribuirmos com eficácia e eficiência para a melhoria de processos, procedimentos ou iniciativas nas nossas instituições, liderando mesmo sem ter um título, porque nos poderá abrir portas para outras oportunidades.

De regresso ao bootcamp Na Fila do Pão, confesso-vos que quero saber mais. Primeiro, porque considero que o nome remete para algo que é muito nosso. Remete para as ocasiões em que te levantas cedo para fazer compras, nas longas filas onde deixavas uma pedra no teu lugar, quando tivesses de te ausentar, e que, invariavelmente, terminava em discussão. Mas, ao mesmo tempo, tais acontecimentos são sinónimos de paciência, pois acabas por comprar, apesar da demora.

E, em segundo lugar, porque, numa sociedade que visa maioritariamente o lucro, ter alguém disposto a partilhar o seu conhecimento nos moldes em que o fez, mostra-nos que é sim possível ajudar, nem que seja com um pouco do nosso tempo, quem está mais atrás na fila do pão.