Opinião

“Leve Já, Pague Depois”: Uma nova era no crédito ao consumo em Angola

Gerson Paulo

Engenheiro

13 Janeiro, 2025 - 14:51

13 Janeiro, 2025 - 14:51

Gerson Paulo

Engenheiro

Uma das iniciativas mais disruptivas recentemente implementadas por um actor do sistema bancário angolano é a introdução de modalidades de pagamento em prestações para bens e serviços, em parceria com estabelecimentos comerciais seleccionados.

Este tipo de serviço, que permite ao consumidor adquirir produtos imediatamente e pagá-los em parcelas mensais, representa um marco significativo na relação entre a banca, o comércio e o cliente final.

Em Angola, onde o poder de compra enfrenta pressões constantes devido à inflação e à volatilidade económica, esta modalidade apresenta-se como uma válvula de alívio para as famílias. A possibilidade de pagar em prestações oferece maior previsibilidade financeira e uma capacidade de planeamento que muitas vezes é limitada em contextos de instabilidade. Mas o impacto não se limita ao cliente.

O comércio formal beneficia directamente com o aumento da procura, enquanto os parceiros que aderem a este modelo ganham acesso a uma base de clientes mais ampla. Para além disso, a facilidade estimula a digitalização das transacções, tornando o comércio mais transparente e eficiente.

Com cerca de 70% da força de trabalho em Angola, inserida no sector informal (Relatório do FMI 2023), soluções como esta criam incentivos para que comerciantes informais se aproximem do sistema financeiro formal. Ao integrarem redes de parceiros comerciais e oferecerem facilidades de crédito, estes actores do comércio informal encontram vantagens práticas e económicas em regularizar as suas operações. Este movimento tem um efeito cascata. A formalização permite ao Estado aumentar a sua base tributária, canalizar recursos para sectores estratégicos e promover um crescimento económico mais equilibrado. Além disso, a digitalização dos pagamentos reduz os riscos associados a transacções em dinheiro, promovendo maior segurança e rastreabilidade.

Um dos maiores desafios enfrentados pela banca angolana é a inclusão financeira. Segundo o Relatório de Inclusão Financeira da SADC, menos de 50% da população angolana tem acesso a serviços bancários formais. Ao oferecer modalidades de crédito acessíveis, este modelo contribui para a bancarização de uma parcela significativa da população que, até então, operava exclusivamente no sector informal.

Por outro lado, estas soluções educam financeiramente os consumidores, promovendo um uso mais consciente do crédito. Quando bem implementadas, iniciativas como esta ajudam a construir uma cultura de responsabilidade financeira, que beneficia não apenas as instituições bancárias, mas a economia como um todo.

Os desafios e as oportunidades de escala, apesar das vantagens evidentes, o sucesso desta modalidade depende de dois factores-chave:

  • Tecnologia Robusta e Dados Estruturados: a implementação eficaz exige plataformas digitais que permitam o controlo em tempo real de pagamentos, inadimplências e fraudes. Muitos países têm adoptado a inteligência artificial para prever comportamentos de consumo e ajustar condições de crédito de forma personalizada.
  • Expansão de Parcerias: Para alcançar impacto significativo, é essencial diversificar os parceiros comerciais e cobrir uma gama mais ampla de sectores, desde retalho até à educação e saúde.

Além disso, os bancos precisam de adaptar os seus modelos de risco para responder às particularidades do mercado angolano, caracterizado por flutuações de rendimento e informalidade persistente. Esta iniciativa não deve ser vista como uma excepção, mas como um exemplo de inovação que outras instituições podem e devem replicar. Quando várias entidades bancárias adoptam abordagens semelhantes, a concorrência estimula melhores condições para o consumidor, promovendo uma revolução no acesso ao crédito em Angola.

A introdução de modalidades de pagamento em prestações marca um novo capítulo para o sistema financeiro e o comércio em Angola. Mais do que facilitar compras, estas soluções representam um passo em direcção a uma economia mais formalizada, inclusiva e tecnologicamente adaptada.

Numa altura em que se fala tanto de inovação e digitalização, este modelo prova que a criatividade nas finanças não está apenas em novas tecnologias, mas também na reimaginação de como serviços tradicionais podem ser acessíveis e transformadores.

Que este exemplo inspire outros sectores a pensar fora da caixa e a investir em soluções que sirvam não apenas os mercados, mas as pessoas que deles dependem. Angola não só merece como precisa de inovação que transforme realidades e amplie oportunidades.

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