A The Banker, revista britânica de especialidade em banca, fez uma incursão sobre a venda das acções do Estado angolano nos principais bancos do mercado e na gigante de telecomunicações Unitel.
A ordem cronológica remete-nos para o ano de 2022, data em que assinala a abertura do Mercado de Bolsa de Acções na BODIVA, com a primeira alienação de 10% das participações estatais no Banco Angolano de Investimentos (BAI), através da Sonangol e da Endiama. Seguiu-se, no mesmo ano, a venda de 25% que a Sonangol detinha no Banco Caixa Geral Angola (BCGA).
Estes acontecimentos, enquadrados nos esforços do Governo com vista a privatização dos activos públicos no sector privado, apesar de terem merecido elogios de alguns especialistas ouvidos pela revista, os mesmos concluíram que Angola precisa de fazer muito mais do que tem feito até ao momento.
Entre os aspectos identificados pela The Banker, e embora a banca angolana apresente um desempenho bastante atrativo, a julgar pelo seu elevado retorno sobre os capitais próprios (RCP), que é o indicador de avaliação da rentabilidade de uma empresa, o mercado ainda se debate com as ineficiências estruturais, nomeadamente a precariedade da concessão de créditos/depósitos e uma banca sobrevivente da compra de títulos do tesouro.
Há ainda o facto de persistirem dúvidas sobre a profundidade da reforma económica e da contínua influência política sobre o sector bancário.
Ricardo Soares de Oliveira, investigador sénior na Universidade de Oxford, considerou que um sistema bancário aberto e competitivo em Angola é “altamente improvável”.
Esta opinião é corroborada por Steve Hanke, professor de economia aplicada na Universidade Johns Hopkins, nos EUA, que considerou o sistema bancário angolano como impossível de seduzir o “investimento” estrangeiro.
Baseando-se no Índice de Liberdade Humana de 2024, relatório produzido pelo Cato Institute, no qual Angola ficou em 155º lugar entre 165 países em liberdade económica, Hanke apontou que a pontuação é em razão de dois factores: falta de independência do sistema jurídico e a garantia dos direitos de propriedade do País.
Progressos na gestão corporativa e regulatória
Posição diferente foi manifestada pelo chefe de pesquisa da consultora Eaglestone Securities, em Lisboa, argumentando que “existe uma vontade real em Angola de melhorar a governação corporativa”, apontando como exemplo a melhoria, nos últimos anos, da divulgação dos relatórios e contas anuais dos bancos.
Tiago Dionísio apontou ainda o desempenho do Banco Nacional de Angola (BNA), que, em sua opinião, “se tornou um regulador mais exigente”.
Para o terceiro trimestre do ano em curso, está prevista a colocação em bolsa das acções (51%) do Estado na Unitel, maior operadora de telecomunicações no País, assim como as participações no Standard Bank Angola (SBA) e no Banco de Fomento Angola (BFA).
Dada as espectativas em torno da venda de 15% dos 51,9% das acções detidas pelo Estado no BFA, que serão vendidas por meio da Oferta Pública Inicial (OPI), através da Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA), mas mais sobre o retorno à mesa de negociações da venda das participações detidas pelo BPI no BFA, o presidente executivo da ALP Capital Advisory, Tony Lopes, não tem dúvida de que “o peixe grande vai querer um pedaço”.
O BPI suspendeu em Julho de 2023 a venda da sua participação de 48,1 por cento no BFA depois da moeda nacional (kwanza) ter caído face ao dólar. Nelson Carrinho, suportado pelo Grupo Carrinho, e Carlos Maria Feijó, suportado pelo investidor de mercados emergentes Gemcorp, já tinham feito uma oferta quando o BPI recuou.
Numa visão mais optimista, Miguel Azevedo, chefe da banca de investimento para o Médio Oriente e África do Citigroup, considerou que “alguns bancos em Angola são bem geridos com a governação e supervisão regulamentar adequadas”, e que “Angola alcançou enormes progressos neste domínio nos últimos cinco anos e está em linha com outros países do continente.”
Sonangol em sine die
A privatização da petrolífera nacional Sonangol, a “galinha dos ovos de ouro” da economia angolana, é outro item no programa de privatização dos activos públicos no sector privado.
Anunciado pela primeira vez em 2021, a sua concretização para a venda em bolsa foi empurrada para 2026, mas é pouco provável que se concretize neste período. Álvaro Fernão, principal gestor do órgão responsável pela gestão dos activos do Estado (IGAPE), comentou:
“Considerando a magnitude e a sua relevância económica, há alguns trabalhos preliminares em curso”, disse Fernão.