A Nigéria ocupa, actualmente, a posição de maior produtor de petróleo em África, com uma produção estimada em cerca de 1.307.000 barris por dia. Esse volume coloca o país à frente de outros grandes produtores do continente, como a Líbia e Angola, que ocupam o segundo e o terceiro lugares, respectivamente.
E embora figure entre os maiores produtores de petróleo a nível mundial, a Nigéria enfrenta uma severa crise de escassez de combustível, acompanhada por uma escalada dramática nos preços da gasolina, o que agrava o cenário socioeconómico e aprofunda o descontentamento por parte da população.
Essa contradição entre a sua riqueza petrolífera e a realidade do mercado interno deriva da dependência estrutural que o país possui em relação à importação de produtos refinados.
A situação de Abuja onde a companhia nacional (Nigerian National Petroleum Corporation -NNPC) detém o monopólio da gestão dos recursos energéticos, apresenta lições importantes para Luanda, cujo crescimento económico também depende fortemente do sector petrolífero. Apesar de ser um dos maiores produtores de petróleo no continente, Angola enfrenta desafios semelhantes aos da Nigéria, especialmente no que diz respeito à capacidade de refinação interna. A incapacidade da NNPC de refinar internamente petróleo bruto suficiente para atender à demanda doméstica tem forçado o país a recorrer à importação de derivados, o que expõe a economia nigeriana às oscilações dos preços no mercado internacional, agravando sua vulnerabilidade económica.
Essa realidade serve de alerta para Angola, que precisa priorizar o fortalecimento de sua capacidade de refinação interna e reduzir sua dependência de produtos refinados importados. Investir em uma infraestrutura energética robusta permitiria mitigar os riscos das oscilações dos preços de combustíveis e fortaleceria a resiliência económica do país. Ao aprender com os desafios enfrentados pela Nigéria, Angola pode implementar políticas que incentivem o investimento em refinação local, promovendo maior independência energética e uma estabilidade económica mais sustentável a longo prazo.
Esse paradoxo, que se traduz na abundância de matéria-prima e escassez de produtos processados, evidencia falhas nas políticas de gestão do sector petrolífero, criando um ciclo contínuo de crise que afecta a qualidade de vida da população e alimenta frustração social. Em Angola, onde a capacidade de refinação também é limitada, o risco de enfrentar problemas semelhantes é real, tendo em conta o cenário económico internacional.
Angola e a dependência de importações
A dependência de importações de produtos refinados e a exposição às oscilações dos preços internacionais podem agravar a situação económica angolana, caso não se implementem reformas estruturais para fortalecer a capacidade de refinação interna e assegurar maior independência energética.
Os dados do Banco Nacional de Angola (BNA) revelam que, no segundo trimestre de 2024, o valor das importações de combustíveis atingiu US$ 765,3 milhões, correspondendo a 23% do total das importações realizadas no período. Este valor representa um aumento de 8% em relação ao mesmo trimestre de 2023 e posiciona as importações de combustíveis como a segunda maior categoria de importação, apenas atrás das máquinas e equipamentos (US$ 816,5 milhões), que totalizaram 25% das importações.
O quadro é revelador da forte dependência de Angola tanto de combustíveis quanto de bens de capital, reforçando a necessidade de diversificação económica e investimentos na capacidade produtiva interna, especialmente em sectores estratégicos como a refinação de petróleo e a industrialização.