A compra do Finibanco Angola pelos nigerianos do Access Bank Plc trouxe consigo não apenas a mudança do nome e do seu rebranding, reflectindo uma nova visão e identidade visual, mas também, segundo documentos em posse do O Telegrama, “uma gestão à base de conflitos” e usurpação dos poderes efectivos dos órgãos sociais (Conselho de Administração e Comissão Executiva) pelos emissários nigerianos da sede continental do grupo.
O clima de insatisfação dá-se, precisamente, no final de 2023, entre a anterior Comissão Executiva, presidida por Rui Martins Pereira, e os representantes do dono do banco, encabeçado pelo nigeriano Adimohanma Chukwuma Nwokocha, mais conhecido por Chuma, a quem são atribuídos superpoderes na gestão da entidade financeira, embora não ocupe nenhuma posição oficial no board, e não esteja registado junto ao Departamento de Regulação e Organização do Sistema Financeiro (DRO) do BNA.
Por exemplo, para se conseguir um crédito no Access Bank Angola, a palavra final é dada por Chuma e não pela Comissão Executiva, que, formalmente, é o órgão de gestão da actividade diária do banco.
Cronologia de demissões
OUTUBRO 2023
O clima de instabilidade e de interferência nas decisões da Comissão Executiva, provoca a primeira demissão. Preocupada com os riscos reputacionais, Fernanda Simões Brázia denuncia ao cargo de administradora executiva, seguindo-se a segunda demissão: Denise Sousa, então directora de risco.
NOVEMBRO 2023
Não tardou, seguiu-se a demissão de outro administrador executivo, Pedro Emanuel Simão. A razão: não quererem ver os seus nomes associados aos riscos de governance da instituição.
JULHO 2024
Ultrapassado nas suas competências, no dia 15 de Julho, Rui Pereira põe as cartas na mesa, apresentando a sua demissão aos órgãos sociais e aos accionistas, como vogal do Conselho de Administração e Presidente da Comissão Executiva. Estava aberto um conflito silencioso na sucursal angolana de um dos maiores bancos de varejo e de retalho do continente africano.
SETEMBRO
Neste mês, foi a vez de Liana Santos, directora de compliance. No mesmo período, Gessildo Bengui deixa o cargo de director de Estratégia e Transformação Digital do Banco de Crédito do Sul (BCS), para ocupar a função de director de IT (Tecnologia da Informação) no Access Bank Angola. O “casamento” não durou dois meses: ingressou em Outubro e desvinculou-se em Novembro.
NOVEMBRO
Ainda em Novembro, o banco assistiu a uma das demissões mais valiosas e rescisão de contrato: Joana Dinis Figueiredo, directora de governance e secretaria da sociedade, demitiu-se e deu a conhecer ao BNA sobre as razões da decisão.
DEZEMBRO
No início de Dezembro, mais dois directores apresentaram demissão e desvincularam-se definitivamente dos quadros do banco: Ricardo Silva, então director adjunto da banca corporate, e Celso Almeida, então director interino de compliance officer.
Intervenção do BNA e SNEBA
A 9 de Dezembro, um grupo de colaboradores e ex-colaboradores endereça uma carta-denúncia ao Banco Central e ao Sindicato dos Trabalhadores Bancários (SNEBA). O SNEBA, em carta assinada pelo seu presidente, Filipe Makengo Segundo, solicitou um encontro ao presidente da Comissão Executiva, Ricardo Ferreira Petinga, reunião que teve lugar na última terça-feira, dia 17, na sede do Access Bank.
Em resumo, o banco é acusado de ter adoptado uma “cultura organizacional” profundamente “tóxico e hostil”, marcado por práticas abusivas e arbitrárias sob a gestão do novo CEO. Outrossim, foi instituída a prática de rezar antes e após cada reunião, o que tem gerado constrangimentos para muitos colaboradores.
E para quem deseja trabalhar no Access, estando na função de técnico, o salário a receber está na ordem de AOA 200 a 300 mil, um ordenado “significativamente abaixo dos padrões da banca angolana, representando um desrespeito flagrante pelo esforço dos trabalhadores”, lê-se na carta a que tivemos acesso.
O Telegrama contactou e aguarda um pronunciamento do Access Bank Angola sobre estes e outros assuntos em desenvolvimento.