Opinião

A dança das cadeiras

Kâmia Madeira

Licenciada em História pela Universidade de Coimbra

2 Dezembro, 2024 - 01:43

2 Dezembro, 2024 - 01:43

Kâmia Madeira

Licenciada em História pela Universidade de Coimbra

Quem nunca brincou ao Jogo das Cadeiras? Ainda hoje, nos momentos de animação entre familiares ou em festas infantis, dispõem-se cadeiras em círculo em número inferior ao número de participantes. Enquanto a música toca, todos dançam ao redor delas. Quando a mesma para, há que procurar um lugar para sentar até que reste apenas um vencedor.

Esta brincadeira e o uso da sua expressão é frequentemente empregue quando se quer descrever situações em que existe uma mudança de posições, cargos ou funções…

O que quer a Kâmia Madeira ao dar este título ao seu artigo? Suponho que tal pergunta já terá passado pela mente do estimado leitor.

Acredito que facilmente pensou nas recentes mudanças políticas. De facto, o termo pode ser associado a isso, contudo gostava de levá-lo a reflectir mais além, pois as alternâncias não acontecem só na política. Elas também ocorrem no contexto corporativo ou desportivo. O que me leva a escrever sobre isto é a constatação de que mudar é importante quando verificamos que algo pode ser diferente ou melhor. É igualmente importante dar nota do porquê que o fazemos e que objectivo queremos atingir.

No mundo corporativo, os cargos de alta gestão têm um ciclo determinado para o desempenho das suas funções e as equipas devem cumpri-lo até ao fim, pois a estabilidade garante melhores resultados.

A interrupção do ciclo pode surgir com desempenhos insatisfatórios, crises de governança, problemas éticos ou legais, mudança de controle ou reestruturação organizacional.

Quando pensamos na política, as “mexidas” sem contextualização originam especulação, já que, enquanto cidadãos, queremos governos estáveis e escolhas que se consubstanciem em elementos com competências e perfis adequados que irão contribuir para o sucesso do projecto político.

No desporto, a tolerância ao erro ou ao insucesso é voraz e o treinador que não apresenta resultados, na maior parte das vezes, não aquece o lugar. A pressão de adeptos e imprensa origina muitos despedimentos.

Não estaremos a ser precipitados no afã da resolução rápida? Será que a pressão para apresentar resultados está a fazer com que escolhamos profissionais sem as competências certas para cargos de liderança? E quem se predispõe a assumir tais funções é líder ou chefe?

Enquanto sociedade, qual o nosso grau de fiscalização e, consequentemente, de procura por justificações? Bombardeados pelas plataformas digitais, elaboramos teorias da conspiração e memes. Mas, pouco tempo depois, já nos esquecemos das exonerações implacáveis ou dos gestores que transitam de empresa em empresa “dançando” de órgão de gestão em órgão de gestão.

Talvez o que hoje realmente importa no jogo das cadeiras é perceber se o vencedor é apenas um ou deveremos ser todos?

Deixo para reflexão.

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