Inicia-se mais um ciclo lectivo e os problemas são os mesmos. Segundo declarações prestadas à Angop pela Directora Nacional para o Ensino Pré-escolar e Primário, Soraya Kalonguela, temos 4 milhões de crianças e jovens fora do sistema de ensino.
Os meninos continuam sem ter como estudar por falta de vagas, escolas e professores. Apesar do referido, o Ministério da Educação informou que conta com cerca de 12 mil escolas, o que corresponde a 100 mil novas salas, mas necessita de 68 mil professores para atender às necessidades.
Mas, sobre este novo ano, não temos só estas informações. O Ministério introduzirá as disciplinas de inglês e francês nos primeiros ciclos, uma iniciativa importante para a melhoria de competências dos nossos alunos. De igual modo, devo salientar a aposta na continuidade de vários eventos de reforço do saber e da competição, sendo disto exemplos as olimpíadas de matemática, física ou a feira de amostras do sistema educativo como um meio que estimula o conhecimento e capacita os discentes fora das actividades lectivas obrigatórias.
Porém, creio ser necessário envolvermos outros parceiros para a prossecução dos objectivos estabelecidos. O apoio às escolas comunitárias, o reforço com ocupação dos tempos livres ou modelos de escolas rurais poderão diminuir o elevado número de crianças e jovens fora do sistema de ensino.
É crucial uma análise detalhada ao quadro de professores, pois temos os que o são por vocação, os que exercem a função porque não têm outra opção e os que gostariam de o ser e não podem. Nesta mescla, muitos são acometidos por doenças do foro psicológico, estando distante do desempenho esperado. Recentemente, quando reflectia sobre este tema, questionei-me o quão difícil pode ser-se um bom professor, visto que um rendimento modesto e uma constante inversão de valores pode dar espaço à falta de ética…
O professor anda de candongueiro e o aluno chega de BMW. Quando o pai do aluno vai reclamar da nota, não quer problemas e, por isso, facilmente alicia o professor.
O docente tem de optar entre cumprir o currículo da disciplina sem atender às boas práticas ou mercantilizar, quer seja a sua forma de ensinar como o seu tempo.
E nestas escolhas, muitas vezes dúbias, surgem os “maus fígados” e a pouca cooperação de parte a parte. Ou seja, professores à beira de um ataque de nervos com salas lotadas e sem condições de trabalho, bem como alunos de uma geração inquieta que já não encontra sentido em salas de aula à moda antiga com professores em monólogos e com falta de literacia digital, situações que se constituem em elementos desestabilizadores.
Gostaria de deixar outra constatação. Cabe a cada um de nós, enquanto encarregados de educação e cuidadores, fomentar o gosto pela escola e pelo processo de aprendizagem. Tenho notado que muitos não o fazem ao enviarem os meninos para a escola uma semana após o início das aulas, dizendo, em jeito de justificação, que na primeira semana não se dá matéria.
A escola é um espaço de socialização e um meio de aprimoramento de competências humanas. Saber se teremos os mesmos colegas, quem serão os nossos professores ou disfrutar da expectativa de mais um regresso às aulas é algo que marca a infância e faz parte do processo de ensino-aprendizagem. Ao não valorizarmos “toda a magia” em torno do mesmo, desvalorizamos os ganhos que temos e teremos com a educação.
Nota:
Após um período de descanso, retorno a este espaço gentilmente cedido pela direcção do O Telegrama, assumindo a responsabilidade de, quinzenalmente, partilhar a minha opinião sobre temas pelos quais nutro interesse. Sendo que a mesma não deverá ser vinculada à nenhuma instituição, denominação religiosa ou partido político.