Armindo era um jovem enérgico e com muitos sonhos, estava prestes a licenciar-se e com alguns amigos envolvera-se na criação de uma start-up, uma ideia de sucesso que prometia revolucionar o país.
A empresa era ainda um embrião, mas na sua conta do LinkedIn já ostentava o cargo de CEO – Chief Executive Officer que traduzido significa Director executivo ou geral.
Dedicava-se com zelo a criar conexões para expandir o seu networking, porque sabia que “ a rede funciona” e queria apresentar a sua ideia ao maior número de pessoas possíveis para encontrar investidores que potenciassem o seu negócio, já que não era “privilegiado” e tinha sérias dúvidas que algum banco o financiasse.
Armindo queria muito destacar-se e participava em todas as actividades em que podia beber da experiência de outros jovens que agora tinham sucesso e eram referência. Ele não sabia bem qual era o seu propósito, mas já tinha meio caminho andado, acreditava, pois era CEO, queria ganhar um salário de 8 milhões de kwanzas e ser reconhecido com a sua grande ideia.
Apesar de fictícia a “estória” acima revela muito do que tenho tido a oportunidade de presenciar. Voltei recentemente a moderar uma actividade de Responsabilidade Social direccionada a estudantes do ensino superior, reiterando a ideia de que os nossos jovens estão sedentos de modelos de referência que os possam dar luzes sobre qual o trilho a seguir.
Contudo, o que também é notório é a ilusão de que o caminho para o que consideram “ter sucesso” seja feito sem desafios.
Os nossos jovens estão preocupados por não saber qual é o seu propósito, o que os põe em desvantagem de algum modo. Querem mapas para encontrarem aquilo que os motiva e, de certa maneira os fará singrar, ganhar muito dinheiro e ter sucesso.
Consideram que alguns dos seus pares, actualmente reconhecidos, são ou foram privilegiados e é por isso que estão onde estão.
Ora, do que tenho acompanhado, creio que se criou uma ideia, em parte pelos novos tempos, de que o sucesso é instantâneo e de que não precisamos de trabalhar para o alcançar. Muitos dos mais de 700 jovens presentes nas edições que moderei, são a geração em que a sua família deposita a esperança de mudança de vida. São os primeiros a tirar uma licenciatura e a ter uma profissão diferente. Contudo, ainda não perceberam que é preciso mais do que ter um “canudo” e apostar na melhoria de competências poderá dar-lhes outras oportunidades.
A mensagem que os oradores convidados mais enfatizaram foi precisamente a do aprimoramento. Incentivaram à leitura, ao domínio de uma língua estrangeira, à aprendizagem fora das instituições de ensino tradicionais, com recurso às plataformas digitais. Disseram que era importante a disciplina, foco e rigor e que no percurso existirão avanços e retrocessos, mas que o importante era não desistir. Todos explicaram que o seu propósito estava correlacionado com algo pelo qual nutriam paixão e que tinham desistido de escolhas seguras para abraçar o desconhecido.
Existem dois pontos que gostaria de salientar, o primeiro, que dá título a esta crónica, é a correlação entre a função de CEO e consequentemente um bom salário e o segundo é a falta de visão de muitos dos nossos jovens.
Em relação ao primeiro ponto, fiquei estupefacta, apesar de entender o porquê, com a crença de que um bom salário deve rondar os 5 a 8 milhões de Kwanzas, pois não temos economia nem instituições capazes de pagar estas quantias a um grande número de colaboradores e porque um vencimento é feito não só pelas competências técnicas, mas também pela criação de valor que o colaborador traz à instituição. Sendo que ser-se CEO acarreta inúmeras responsabilidades e desafios que a maioria desconhece, intitular-se Director Executivo porque está na moda, quando a instituição que lidera tem inúmeras lacunas é pernicioso.
A falta de visão prende-se com o olhar enviesado para o nosso país, pois não se considera que é um local de oportunidades e enfatiza-se a ideia de que no exterior surgem outras, porém se analisarmos com atenção e sem sairmos do nosso continente, Angola é um “El dourado” para malianos, eritreus, congolenses, libaneses. Será que já nos questionamos porquê?
As ideias “disruptivas” dos nossos jovens vêm resolver problemas quotidianos ou são “modismos”?
Enaltecemos os que têm sucesso ou adoptamos a postura “caranguejo com azia” reclamando e vendo apenas defeitos, em vez de querer aprender e melhorar?
As várias transformações pelo mundo foram lideradas por jovens, por indivíduos inconformados que, de algum modo, queriam promover a mudança almejando o bem comum.
Talvez seja hora de promoção de mais espaços de debate e troca de ideias e experiências, de mais iniciativas, de reforço, de competências, de mais contacto entre a academia e o mundo real, para que possamos potenciar a nossa juventude de modo que possa contribuir ainda mais e ajudar a transformar.